"Palavra de honra que já tenho saudades dos tempos em que o simples uso desta expressão criava um vínculo tão forte de empenhamento, que chegava ao ponto de passar até como herança de valores de pais para filhos.
“- Senhor, dou-lhe a minha palavra…”
Era palavra dada, era uma obrigação perante a pessoa a quem “jurava a palavra”, mas também perante a sociedade. Constando-se pelas redondezes que determinada pessoa havia “faltado à palavra”, perdia toda a credibilidade.
“-….cuidado que esta pessoa não tem palavra!”, sussurrava-se logo e o faltoso nem sequer tinha quem lhe fiasse um copo de vinho. Sim, porque os tempos eram muito difíceis e o dinheiro faltava. Eram os longos Invernos que não permitiam trabalhar e sem trabalho não havia dinheiro. Era a grande procura de trabalho e a falta de oferta… Mas, em casa a família tinha que comer.
“- Ò sr. Francisco, precisava de levar mercearia… mas não tenho dinheiro para pagar!”
“- …ò homem, leva lá a mercearia e mata a fome à canalha. És uma pessoa de palavra, leva o que precisares da minha casa e quando ganhares, pagas.”
E não falhavam. Eram pessoas de palavra. Logo que conseguiam trabalho e ganhavam uns tostões, a primeira coisa que faziam era ir à mercearia pagar as dívidas.
E, se sobrasse dinheiro, ia à tasca ali ao lado para poder pagar um copo a um amigo. Bebia o copo, poderia pagar mais outro, mas acima de tudo e, à sua maneira, estava a festejar consigo próprio e a mostrar à sociedade que era uma pessoa de bem, que tinha pago as dívidas e portanto podia circular pela rua com a “cara descoberta”. Dizia-se então: “pobrete mas alegrete”.
Sempre foi ambição de qualquer pai deixar alguma “coisa” aos filhos, quando morresse. Pelo menos, algo mais do que havia herdado e por isso, se eventualmente o vizinho ao lado das suas terras tivesse que vender umas jeiras, por dificuldades ou impossibilidade de as trabalhar, lá ia o velho pai falar com o vizinho.
“-… ò Ti Júlio, eu bem que gostaria de comprar as suas leiras que partem com as minhas para deixar aos meus filhos…”
“-…então, é uma questão de conversarmos”.
“-…pois é, mas a vida agora está um pouco difícil…Se ao menos eu pudesse ir-lhe pagando aos poucos… Dou-lhe “ a minha palavra de honra” que tudo será pago.
Aquela ”palavra de honra” valia mais que uma escritura. No fim da conversa, apertavam as mãos para selar o compromisso. Poderia o pai morrer descansado que os seus filhos, ao herdarem mais um pedaço de terra, sabiam que tinham a obrigação de pagar o resto da dívida para honrar a “palavra ” que fora empenhada e abrangia toda a família.
Eram outros tempos, outras mentalidades.
Este compromisso, valia para as pessoas envolvidas mas também para a comunidade local. Toda a gente sabia e respeitava aquilo que fora acordado entre ambas as partes.
Mas a verdade, é que muitos problemas se originaram desta maneira de estar na vida!
Posteriormente, quando os organismos oficiais procuraram fazer registos de propriedade, os herdeiros ou novos proprietários, não tinham outros comprovativos que, mais uma vez, não fosse a sua palavra. Nada havia registado em Notariado ou Secção de Finanças!
A “palavra de honra” , para o caso, já não valia. Eram precisas provas de facto.
Tantos problemas que isso originou!
Muita gente “governou” vida! Muita gente foi prejudicada.
Sempre houve “Chicos espertos”…
Tenho saudades dos tempos antigos.
Não da pobreza, da miséria e falta de cultura, mas sim das pessoas que ao darem “ a palavra de honra”, se sabia que cumpririam, custasse o que custasse.
Inspirou-me este texto a visita de um Amigo Virtual desta Comunidade.
Prometeu, em tempos, que por aqui passaria.
E cumpriu."
“- Senhor, dou-lhe a minha palavra…”
Era palavra dada, era uma obrigação perante a pessoa a quem “jurava a palavra”, mas também perante a sociedade. Constando-se pelas redondezes que determinada pessoa havia “faltado à palavra”, perdia toda a credibilidade.
“-….cuidado que esta pessoa não tem palavra!”, sussurrava-se logo e o faltoso nem sequer tinha quem lhe fiasse um copo de vinho. Sim, porque os tempos eram muito difíceis e o dinheiro faltava. Eram os longos Invernos que não permitiam trabalhar e sem trabalho não havia dinheiro. Era a grande procura de trabalho e a falta de oferta… Mas, em casa a família tinha que comer.
“- Ò sr. Francisco, precisava de levar mercearia… mas não tenho dinheiro para pagar!”
“- …ò homem, leva lá a mercearia e mata a fome à canalha. És uma pessoa de palavra, leva o que precisares da minha casa e quando ganhares, pagas.”
E não falhavam. Eram pessoas de palavra. Logo que conseguiam trabalho e ganhavam uns tostões, a primeira coisa que faziam era ir à mercearia pagar as dívidas.
E, se sobrasse dinheiro, ia à tasca ali ao lado para poder pagar um copo a um amigo. Bebia o copo, poderia pagar mais outro, mas acima de tudo e, à sua maneira, estava a festejar consigo próprio e a mostrar à sociedade que era uma pessoa de bem, que tinha pago as dívidas e portanto podia circular pela rua com a “cara descoberta”. Dizia-se então: “pobrete mas alegrete”.
Sempre foi ambição de qualquer pai deixar alguma “coisa” aos filhos, quando morresse. Pelo menos, algo mais do que havia herdado e por isso, se eventualmente o vizinho ao lado das suas terras tivesse que vender umas jeiras, por dificuldades ou impossibilidade de as trabalhar, lá ia o velho pai falar com o vizinho.
“-… ò Ti Júlio, eu bem que gostaria de comprar as suas leiras que partem com as minhas para deixar aos meus filhos…”
“-…então, é uma questão de conversarmos”.
“-…pois é, mas a vida agora está um pouco difícil…Se ao menos eu pudesse ir-lhe pagando aos poucos… Dou-lhe “ a minha palavra de honra” que tudo será pago.
Aquela ”palavra de honra” valia mais que uma escritura. No fim da conversa, apertavam as mãos para selar o compromisso. Poderia o pai morrer descansado que os seus filhos, ao herdarem mais um pedaço de terra, sabiam que tinham a obrigação de pagar o resto da dívida para honrar a “palavra ” que fora empenhada e abrangia toda a família.
Eram outros tempos, outras mentalidades.
Este compromisso, valia para as pessoas envolvidas mas também para a comunidade local. Toda a gente sabia e respeitava aquilo que fora acordado entre ambas as partes.
Mas a verdade, é que muitos problemas se originaram desta maneira de estar na vida!
Posteriormente, quando os organismos oficiais procuraram fazer registos de propriedade, os herdeiros ou novos proprietários, não tinham outros comprovativos que, mais uma vez, não fosse a sua palavra. Nada havia registado em Notariado ou Secção de Finanças!
A “palavra de honra” , para o caso, já não valia. Eram precisas provas de facto.
Tantos problemas que isso originou!
Muita gente “governou” vida! Muita gente foi prejudicada.
Sempre houve “Chicos espertos”…
Tenho saudades dos tempos antigos.
Não da pobreza, da miséria e falta de cultura, mas sim das pessoas que ao darem “ a palavra de honra”, se sabia que cumpririam, custasse o que custasse.
Inspirou-me este texto a visita de um Amigo Virtual desta Comunidade.
Prometeu, em tempos, que por aqui passaria.
E cumpriu."
sol.sapo.pt/blogs/oserrano/archive/2007/09/23/Respingos-do-Douro
Infelizmente, com as mudanças de....tudo e mais alguma coisa, quer parecer-me que até isto mudou e hoje escrito ou honrado pela palavra deixou de ter qualquer sentido ou valor.
2 comentários:
Bonito texto na forma e na intenção.
Parabéns Paula por o teres transcrito aqui no teu blogue.
Podemos e devemos continuar a condenar quem não tem palavra e faz da honra "gato/sapato".
Não podias caracterizar melhor o que se passa hoje à nossa "porta".
Silvestre Félix
Grato por me citar!
Fico feliz por a ter encontrado.
Um abraço da serra
Oserrano
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